Entenda por que a vacinação é importante para a sociedade
- Jornal O Globo
- 28 de mai. de 2019
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RIO — O Brasil tem a maior parte das doenças imunopreveníveis — aquelas para as quais é possível se imunizar, como rubéola, tétano, caxumba e poliomelite — controladas pela aplicação de vacinas. No entanto, no ano passado, um surto de sarampo retirou do país o certificado de nação livre da doença , concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde em 2016.
Por conta disso, na última segunda, o ministério anunciou que realizará uma campanha de vacinação contra a doença, que deverá ser iniciada no dia 10 de junho em todo o país.
As vacinas são a melhor maneira de se prevenir contra esse tipo de doença, além de serem extremamente seguras e eficazes, raramente apresentando efeitos colaterais, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha.
Um surto de sarampo já contaminou 880 pessoas nos Estados Unidos neste ano. No Brasil, a doença está sob controle. Em 2019, o Ministério da Saúde confirmou 83 casos . Deste total, 27 são autóctones (quando a pessoa é contaminada na própria região em que vive), todos eles de residentes no Pará. Os demais casos foram importados de outro país ou ainda não foi possível identificar a fonte de infecção.
Segundo Cunha, desde 2018, foram registrados 10.424 casos da doença no país (por conta do surto ocorrido no início daquele ano), com 12 óbitos — até o dia 20 de abril. Embora a doença esteja controlada por aqui, há sempre o risco de que uma possível queda no número de imunizados permita que o vírus se espalhe.
— Uma pessoa não vacinada que tenha contato com um portador de sarampo tem 90% de chances de desenvolver a doença. E essa transmissão é feita da maneira mais difícil de se controlar, por meio das vias respiratórias, contato com secreção. Então, deve se ter muito cuidado com lenços, após tosses e espirros, lavar bem as mãos, evitar ambientes fechados — destaca. — A vacina é a melhor maneira de se prevenir. Duas doses é o suficiente, e a rede pública oferece de maneira gratuita.
95% da população deve ser imunizada A vacina é voltada para praticamente todos os públicos, exceto crianças que estejam em tratamento contra câncer, gestantes, pessoas com imunodepressão por doença (como o HIV, por exemplo) ou aqueles que usam medicamentos que levam à imunodepressão. O ideal é imunizar 95% da população, o que reduz drasticamente o risco de surtos.
Segundo Cunha, é fundamental o papel dos órgãos responsáveis e, principalmente, dos funcionários da área de saúde na divulgação das campanhas. Além disso, o Brasil apresenta um calendário complexo (muitas campanhas de imunizações a serem realizadas), o que exige muito do profissional de saúde.
— O horário de funcionamento dos postos atrapalha, profissionais de saúde que não indicam e nem usam a vacina, e há muita desinformação, medo das reações ao medicamento. É muito difícil mudar a opinião da pessoa quando ela tem uma ideia fixa preestabelecida, e não aceita nem um parecer científico. É aí que as campanhas devem focar — lamenta Cunha.
Os sintomas mais comuns do sarampo são: febre alta (acima de 38,5º C), acompanhada de tosse constante, irritação ocular, coriza e congestão nasal, além de mal-estar intenso. Em estágio mais avançado, surgem manchas avermelhadas no rosto, que lastram em direção aos pés. Também são comuns lesões na boca, que geram muita dor.
Em casos mais graves, há um acometimento do sistema nervoso central, podendo ser agravado por infecções secundárias, como pneumonia, podendo levar à morte. As complicações atingem de maneira mais severa pessoas em estado de desnutrição, recém-nascidos, gestantes e pessoas portadoras de imunodeficiência.
— Assim como para outras doenças, a nossa preocupação é constante. As redes socias, por vezes, disseminam muita desinformação acerca de doenças. Tivemos uma onda contra a tríplice viral (vacina contra sarampo, caxumba e rubéola) nos anos 90 por conta de um estudo que relacionava essa vacina com casos de autismo, o que foi derrubado depois. Mas isso segue no imaginário popular, e isso tem que ser combatido — destaca, completando que a vacina contra o sarampo é extremamente segura e eficaz, e raramente efeitos colaterais são diagnosticados.
Surto ligado ao movimento antivacinação No caso do surto americano, há uma relação entre parte dos casos e um movimento antivacina, mais especificamente em uma ilha conhecida pelo grande número de pais que se recusam a vacinar seus filhos: Vashon, no noroeste do país.
Segundo Cunha, o movimento similar no Brasil é muito pequeno, mas composto por extremistas, que repudiam o uso de qualquer tipo de vacina.
O especialista destaca a evolução da abrangência da imunização no país: no início dos anos 90, apenas quatro vacinas eram aplicadas nos recém-nascidos; atualmente, são cerca de 20, o que reduz o risco de se contrair uma série de doenças.
— O movimento [antivacina] no país é incipiente, mas é importante destacar que as pessoas que fazem essa crítica pertencem a uma geração completamente imunizada contra o sarampo, justamente porque tomaram a vacina. Então elas não sabem do que estão falando, porque não sofreram desse mal. Um estudo aponta que, caso a vacina contra a paralisia não tivesse sido aplicada em escala mundial, seriam mais de 10 milhões de pessoas com a doença em todo mundo — afirma.
Cunha destaca também que uma possível volta de surto de sarampo no Brasil abriria o precedente para a preocupação do retorno de outras doenças que foram erradicadas do país. Ele cita o exemplo da poliomielite, extinta no Brasil desde 1989, mas que ainda tem casos registrados em três países no mundo.
— Com a velocidade de deslocamento que nós temos hoje, em algumas horas você sai de uma país que tem esse vírus circulando e chega ao Brasil. Cerca de 250 municípios brasileiros mapeados estão com menos de 50% de imunidade contra a poliomielite. Isso configura um risco para as pessoas destas localidades, porque uma população grande, com baixo índice de imunidade, pode desencadear um surto — afirma.
Campanha contra influenza perto fim A Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe termina em duas semanas. Segundo dados do ministério, cerca de 21,8 milhões de pessoas que estão inclusas no público-alvo ainda não compareceram aos postos para tomar a vacina, que previne contra o vírus influenza (A H1N1; A H3N2 e influenza B).
Fazem parte do público alvo da campanha puérperas (mulheres no período de resguardo), idosos, funcionários do sistema prisional, indígenas, professores, profissionais das forças de segurança e salvamento, detentos, pessoas com comorbidades (duas ou mais doenças em simultâneo), trabalhadores da área de saúde, crianças e gestantes.
A campanha teve início no dia 10 de abril e seguirá até o dia 31 de maio. Até o momento, 63,4% do público-alvo já foi imunizado, um total de 37,7 milhões de pessoas. Neste ano, até 11 de maio, foram registrados 807 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por influenza em todo o país, com 144 mortes. O vírus influenza A (H1N1), com registro de 407 casos e 86 óbitos, é mais recorrente. (Fonte Jornal O Globo)
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