Câncer de mama acessória axilar: relato de caso.
- Dr. Emílio Pacheco
- 13 de mai. de 2016
- 4 min de leitura

Resumo:
A proliferação de tecido mamário ectópico pode ser verificada durante os atendimentos ambulatoriais de mastologia, devendo ser levado em consideração o risco de malignização, bem como em qualquer tecido mamário. Neste trabalho é relatado o caso de uma paciente de 69 anos, que em consulta de rotina foram observadas na mamografia microcalcificações em mama acessória axilar esquerda, que foram biopsiadas e no exame histopatológico foi encontrado carcinoma ductal “in situ” do tipo sólido e com comedonecrose. A paciente foi submetida a excisão ampla com quadrantectomia no prolongamento axilar da mama tópica esquerda e pesquisa de linfonodo sentinela (negativa IMPRINT), sendo feita radioterapia adjuvante. São discutidos aspectos relacionados à frequência da ocorrência do câncer de mama acessória, às dificuldades diagnósticas, ao prognóstico e às abordagens terapêuticas.
Palavras-chave: mamas supranumerárias; neoplasias mamárias; relatos de casos (tipo publicação).
Introdução:
Durante a quinta semana do desenvolvimento fetal, forma-se a linha láctea ou linha mamária primitiva, um espessamento ectodérmico, em faixa, bilateral, que vai da axila até região inguinal. Depois, há a formação de uma saliência mamária bilateralmente, na região do tórax, e o restante da linha mamária entra em regressão. A regressão incompleta, ou dispersão excessiva dessa linha mamária primitiva, leva à formação de tecido mamário acessório.
A anomalia mamária mais freqüente observada em ambos os sexos é o mamilo supranumerário ou politelia. Raramente verifica-se a presença ectópica de um tecido mamário verdadeiro, a polimastia que ocorre, em geral, na região axilar, mas pode ser encontrada em outras partes do corpo humano.
As anomalias do desenvolvimento mamário são mais comuns em mulheres ocorrendo em 1 a 5% da população, às vezes consideradas como um problema estético.
Clinicamente, o tecido mamário ectópico apresenta variações desde somente mamilos até uma mama completamente formada. Quando o tecido glandular também está presente, os mesmos processos que ocorrem na mama normal podem acontecer, incluindo as alterações cíclicas induzidas pela ação hormonal fisiológica, estando sujeita aos mesmos agentes carcinogênicos.
Casos de mama ectópica com alterações benignas e malignas são documentados. Os carcinomas em mama ectópica correspondem até a 0,3% dos casos de malignidade mamária, sendo de difícil avaliação e pior diagnóstico do que o câncer de mama tópico. Quando um nódulo encontra-se ao longo da linha Láctea, a possibilidade de tecido mamário deve ser considerada. A ocorrência de tais mamas na axila, por exemplo, pode na inspeção inicial, ser confundida com linfonodomegalia.
A região axilar é a localização mais frequente das mamas acessórias, que podem ser identificadas no rastreamento mamário de rotina, pois este inclui a avaliação axilar.
A presença de tecido mamário ectópico também pode estar associada com outras anomalias congênitas, geralmente do trato urinário.
Pela sua raridade, nos prontificamos a relatar um caso de câncer de mama acessória axilar.
Relato do Caso:
Paciente M. S. G.; 69 anos; procedente de Jaguaribe-CE; G2PØA2; menarca aos 11 anos; menopausa aos 50 anos;
Terapia de Reposição Hormonal não realizada; nega história familiar de Câncer de mama e medicação de uso contínuo; cirurgia prévea-histerectomia com ooforectomia e colecistectomia.
Mamografia: microcalcificações pleomórficas em mama extranumerária esquerda (BIRADS 4c).
Biópsia: carcinoma ductal “in situ” do tipo sólido e com comedonecrose.
Tratamento: ressecção de mama extranumerária + Radioterapia adjuvante (irradiação de toda mama esquerda com 50Gy em 25 frações, paciente em bom estado geral após concluir o tratamento, somente com pequena hipercromia na aréa irradiada )+ Quadrantectomia em prolongamento axilar à esquerda + Pesquisa de linfonodo sentinela Negativa (IMPRINT) Em aguardo da imunohistoquímica.
Discussão:
O local mais comum de tecido mamário acessório é a região axilar. Porém, pode ser encontrado em qualquer outro local da linha Láctea.
O tecido mamário acessório responde à estimulação hormonal e costuma se tornar mais evidente durante a menacme, gestação ou lactação. Sintomas como dor, desconforto, secreção Láctea ou irritação da pele podem ocorrer.
O diagnóstico e acompanhamento das pacientes com tecido mamário acessório e a detecção precoce de anormalidades importantes nem sempre são fáceis. Provavelmente pela dificuldade na abordagem adequada da região axilar pela mamografia.
O carcinoma das mamas axilares frequentemente acomete pessoas jovens, abaixo dos 40 anos e apresenta características histopatológicas indiferenciadas e disseminação precoce, com metástases ganglionares regionais, determinando pior prognóstico. Contudo, o carcinoma em tecido mamário ectópico é raro.
Deve-se estar atento, em caso de suspeita de mama acessória, aos diagnósticos diferenciais, como linfadenopatias, lipomas e neoplasias. Embora grande parte dos casos de linfadenomegalia seja de natureza benigna, uma adenopatia axilar persistente em mulheres jovens, sem lesão inflamatória aparente pode ser o primeiro sinal de um linfoma ou carcinoma metastático. O câncer de mama pode apresentar-se como carcinoma clinicamente oculto, em 1% dos casos, com metástases axilares.
Há indícios de que a drenagem linfática do tecido mamário ectópico não segue o padrão descrito para a drenagem da mama tópica. Provavelmente existem drenagens múltiplas, o que dificulta a utilização de corantes para identificação do linfonodo-sentinela.
Por isso, é muito importante a sua detecção nos estágios iniciais, permitindo a instituição precoce do tratamento, com chances de cura maiores.
Conclusão:
Não dispomos, na literatura de protocolos para o tratamento específico do câncer de mama acessória, sendo que a decisão quanto a melhor conduta é individualizada.
Paulo Henrique Walter Aguiar1, Luiz Gonzaga Porto Pinheiro2 , Emílio Daniel Pacheco de Sousa3
Serviço de Mastologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) - Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
1 Médico mastologista do HUWC - MEAC da UFC.
2 Cirurgião oncológico, Chefe do Serviço de Mastologia do HUWC - MEAC da UFC.
3 Médico residente de mastologia do HUWC - MEAC da UFC.
Endereço para Correspondência: Paulo Henrique Walter Águiar; Rua Papi Júnior, 1511, Rodolfo Teófilo, Fortaleza-Ceará; CEP:60430-140, Fone: (85) 3283-6700, Fax: (85) 3283-4988, e-mail: pauloaguiarconsultoria@gmail.com